Frases do filosofo Jean Meslier
Jean Meslier , o padre ateu
Jean Meslier (1664-1729), um vigário de aldeia que escreveu, por volta de 1720, uma obra radical, na qual preconiza a união dos oprimidos em torno do estrangulamento do último rei com as tripas do último padre. Sustentava o deicídio, o tiranicídio e o comunismo como as bases de um novo mundo.
Em linhas gerais, Jean Meslier foi um vigário de aldeia que viveu no norte da França entre os anos de 1664 e 1729. Ele foi autor de uma obra contundente e radical por meio da qual expressou toda a sua indignação contra a opressão e as injustiças sociais cometidas contra os camponeses durante o reinado de Luís XIV. A solução por ele proposta para tais mazelas encontramos no seu manuscrito intitulado Memória dos pensamentos e dos sentimentos de Jean Meslier, concluído em 1720, e nas Cartas aos curas, provavelmente redigidas na mesma época. E consiste no ideal de uma sociedade fundamentada no ateísmo e na propriedade coletiva da terra. Porém, para realizá-lo, Meslier preconiza, muito antes dos jacobinos, dos anarquistas e dos bolcheviques, a união de todos os explorados e oprimidos em torno do estrangulamento do último rei com as tripas do último padre.
Do ponto de vista metafísico, Meslier nega categoricamente o dogma da criação do universo, por conseguinte, as idéias de divindade, transcendência e de providência ordenadora da natureza. Seu ateísmo, portanto, é inequívoco. Os deuses, sem exceção, inclusive o deus judaico-cristão, são por ele definidos como falsidades, como fábulas absurdas. Os profetas e os santos são julgados charlatães, e os milagres, por sua vez, aparecem como farsas, isto é, como um produto da falta de escrúpulos dos que as sustentam combinada com a ignorância e com medo dos humildes que a elas dão assentimento. Com a mesma veemência, Meslier argumenta a favor do seu materialismo, que é radical.
No seu entender, tudo o que existe é material, ou seja, só há matéria no universo, apenas uma única substância na natureza. E substância para ele é toda realidade corporal. A matéria é a realidade, é o Ser propriamente dito. E como Ser, a matéria é a causa de si mesma e de tudo o que é. A idéia da existência de uma outra substância além da matéria, uma substância imaterial e imortal, é refutada como fantasiosa.
Além de ateu e materialista, Meslier também teceu duras críticas à religião. E não apenas à religião cristã, mais especificamente a católica, mas à religião em si mesma. Um século antes de Nietzsche e algumas décadas antes do surgimento estrondoso do marquês de Sade, esse padre provinciano proferiu uma das maiores diatribes já proferidas contra o cristianismo, em particular contra a figura de Jesus Cristo, que é definido por ele como louco, fanático, ignorante e charlatão, como um indivíduo astuto que se aproveitou da credulidade e do desespero de pessoas ignorantes para estabelecer o seu império.
Do ponto de vista político e ideológico, a posição de Meslier destoa significativamente da dos demais ilustrados. Ele considerava a religião a princípio como um artifício humano; porém, como um nefasto expediente dos espertalhões, aliás, como um eficiente instrumento de dominação utilizado pelos reis, sacerdotes e demais parasitas para submeterem e manipularem os povos imersos na miséria e debilitados pelo sofrimento.
No entanto, a despeito da retórica inflamada e das idéias revolucionárias dos seus sermões materialistas, o padre ateu foi em vida mais um revoltado, mais um indivíduo indignado com as injustiças sociais do que efetivamente um homem de ação engajado na realização dos seus ideais. Convém ressaltar que Meslier manteve o seu ateísmo e o seu ideário libertário no mais absoluto sigilo durante toda a sua existência, e que as suas convicções e os seus escritos apenas vieram à tona postumamente, causando um retumbante escândalo.
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